A mulher do interior
Tentei fugir de ti, mas não teve jeito. Para onde ia, eu te buscava. Nas árvores, nos rios, no mar, nos prédios da cidade, nas mulheres e nos homens, na alegria e na tristeza. Não importa onde estava, te buscava. Abria os olhos e tentava me esquecer de ti. Pensei, se eu me ocupasse demasiado com o trabalho, talvez me esquecesse da tua presença. Então me ocupei com o trabalho. Pensei, talvez se eu me encher de amigos e tiver muitas vidas para celebrar, talvez eu me esqueça do que me falta. Então fiz muitos amigos e muito festejei.
Ainda assim, lá de dentro, como um vento que insistia em soprar, ora com alegria, ora com remorso. Ora com suavidade, ora com dor, o vento me lembrava de ti. Como uma memória antiga de onde eu vim e para onde vou. Eu te buscava em presente, te lembrava no passado e ansiava que pelo nosso futuro. Eu e Tu, o mundo todo. Eu te buscava no mundo todo. E dentro de mim encontrava a miséria de minhas desordens, as partes que me faltavam.
Às vezes, ao estar na tua presença, era como se as faltas ditassem o espaço da dança. Me movia por entre meus abismos, sem sentir nenhum vazio, mas a plenitude de caminhar para Ti. Vazia, cantava: “nada me falta, eu encontrei meu Cristo”.
Já não sei mais se era o canto de um dia ou da vida inteira, até que eu e Tu nos vejamos. Mas, de dentro, só vejo as minhas faltas e a tua infinita misericórdia. Sinto tua mão que se estende para me salvar de novo, teu sangue e água que ininterruptamente caem sobre a terra e sobre mim, para que eu tenha sustento na caminhada rumo a ti.
Senhor, tu sabes que eu não sei nada sobre mim, sobre a vida, sobre os dias. Dá-me a Graça de viver profundamente o presente, receber a cada dia as gotas de Graça que tu desejas me dar, sem a pretensão de entender tudo, conhecer tudo, saborear tudo. Faz crescer em mim a única ambição de ser tua e a liberdade de viver da tua vontade.