Cambia

“Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño” Mercedes Sosa

Rodei o mundo para ver meu mundo girar. Nessa roda viva, alguma parte de mim se foi. Deu espaço a novas reflexões, perspectivas, formas de se relacionar. Tento hoje compreender o que penso, sinto, como ajo. Por vezes, me frustro. Talvez não seja hora de compreender. Talvez eu não possa compreender.

Mergulho, então, com medo num mar de incertezas. Se agarrar ao presente como a única realidade possível. Possível. Ficar com o possível, se manter sonhando com o ideal. Se alegrar com as gotas do possível que contemplam o ideal. Há sagrado em tanto. Há sagrado no rio, na Graça de ter o que comer e beber. Há sagrado no outro, na Graça de ter alguém para sorrir e chorar junto. Há sagrado no não ter nada, não ser nada. É possível não ser muita coisa e ser feliz. Eu vi. Há sagrado em olhar para o outro e se reconhecer. Ser mãe, filha, esposa, comunidade. Eu vi.

Tenho a sensação de ter sido rasgada. Não ferida, mas desnudada. Me vi só, num lugar onde eu não era nada para ninguém. Brevemente, me vi livre para ser quem eu sou — com toda a mesquinharia que carrego comigo — diante de Deus. Consciente de que nada depende de mim para existir ou para funcionar, me vejo na beira de uma crise de sentido. Crise, no sentido de estado de mudança. Saio do lugar de protagonista para ocupar o lugar de corresponsável. Sou corresponsável por um projeto coletivo (ou minimamente comunitário) de cuidado, respeito, honestidade, conhecimento, compromisso, confiança e carinho.

Então, voltei para casa, para onde nasci, cresci, aprendi a ser quem sou. Voltei com a mala cheia de questões. Me estranhei ao vestir os uniformes antigos, como quem tivesse se escondendo dessa realidade última: no fundo, estamos a sós com Deus e não somos muita coisa, nem tampouco podemos fazer muita coisa. Estranhei o cansaço da cidade, os papéis que vamos acumulando para sei lá o quê.

“Você vai viver, então mudar sua forma de se comportar. E só depois você vai entender o que aconteceu.” Nine

Só depois.