Dos dias, de mim, de Deus
“não há caminho.
O caminho se faz ao caminhar.
O caminho são as suas pegadas, nada mais.” Eymard Mourão
Há de se agradecer pela rotina, de se vislumbrar os caminhos interiores que se percorrem desde o nascer do sol ao momento dos olhos se fecharem. Há de abençoar cada consulta, pedir a Deus o dom da sabedoria para ajudar outros a percorrerem seus caminhos. Há de se dançar no vai e vem do ritmo da vida, na forma como ela se apresenta, no rosto de quem ela se apresenta, em cada encontro. Há de se entender, por fim, mais sobre a vida e sobre saúde, ao se deparar com a morte e a doença.
Há de se reconhecer corpo, mulher, desejo, gente. De aprender mais sobre o caminho do que afundar na ansiedade pelo final dele. De se responsabilizar sobre quem se é, o que se faz, o que se deseja fazer pelo outro. Há de se viver o próprio sonho, com urgência. Sem esperar o sonho chegar, mas encarná-lo.
Há de se encontrar no olhar. De outra, de outro, mas sobretudo do Outro. De se deixar perder, se entregar, por se sentir completamente achada pelo olhar amoroso de Deus. Há de se confiar na sabedoria dos dias, do ritmo das estações, dos ciclos de vida, das marés interiores.
Há de se descobrir uma nova versão de si. Ainda que nova, profundamente fiel àquilo que sempre se foi. E contar a história por outro ângulo, daquele lugar que se encontra no hoje da própria história.
E se expor. Deixar que aquela semente morra e exploda em vida, para si e para os outros, por consequência das raizes profundas que cresceram. Há de se ver os galhos brotarem e as flores, aos poucos, surgirem, embelezarem a vista e depois morrerem. Há de se podar os galhos, permitir que as folhas mortas adubem o solo, se permitir uma beleza nova a cada estação — mesmo no inverno, acolher a beleza improvável dos galhos secos permitindo suas folhas, antigas e novas, a seguirem seus ciclos.

Há de se respeitar quem se é. E só assim conseguir respeitar os outros e os seus processos. Há de se deleitar no tempo, quando se rebelar contra a correria que não permite a contemplação da vida que é plena em si mesma.
Há de se render, por fim, a vida como ela é e não como deveria ser.