Sobre findar ciclos
Nesse tempo de pouquíssimas certezas, vivi meio desmantelada. Acordei com pressa num dia de calma, com calma num dia de pressa. Cheia de alma num dia de máquina, cheia de máquina em momentos de alma. Meio descompassada comigo mesma, tentando acompanhar as mudanças.
Dias de coração apertado, peito sufocado, choro solto. Chorei depois do trabalho, durante o trabalho, ao pensar em trabalho. Pedi demissão. Não nasci pra ser triste.
Dia após dia, chuva após chuva, o sol as intercalando. Sempre quente aqui dentro. Um amor quente, ou melhor morno, como um café com leite num fim de tarde. A segurança de ter lares.
Tanto tempo lendo sobre o cuidar antes da morte. Sobre aprender a falar e a escutar para cuidar bem antes da morte. Me escuto: não cabe perto de mim quem não me quer bem, quem não me respeita por quem eu sou. Me escuto: não caibo em lugares que não me respeitam por quem eu sou.
Morre algo de mim nesse tempo de mudança e de cuidado. Imagino que surge alguém mais firme, forte e protegida. Alguém que sabe bem de onde vem e deseja conhecer, com urgência, pra onde esses caminhos me levam.
Rezo a Deus para me livrar do ressentimento. Para onde eu for, quero ir em paz com o que eu vivi.
Assim, seguem os dias. Curiosamente, nesse inverno, os dias de sol duram mais enquanto eu caminho para o fim.